Obesidade é uma doença crônica cujo tratamento deve ter o mesmo rigor destinado a outras patologias
Encontrar as causas da obesidade em outra equação que não a simples aritmética entre calorias consumidas e gastas já é obsessão para muitos cientistas ao redor do mundo, mas não há consenso. Em outra face do tema, o famigerado ganho de peso universal encontra sua explicação na utilização de automóveis, elevadores, controles remotos, informática, entretenimentos e outras comodidades do mundo moderno. Então, em sua gênese, a obesidade ainda é apresentada pela maioria dos que lidam com o distúrbio, como resultante de equívoco comportamental voluntário.
Contudo, observa-se com nitidez nestes últimos anos, nas publicações médicas sobre o assunto, um novo diapasão quando o assunto é a perda de peso e a sustentação deste emagrecimento. Estudos que observaram resultados por períodos mais extensos que os quase convencionais 12 a 18 meses de seguimento expuseram verdades que forçam as buscas por justificativas.
Está ficando bem claro que o impositor linguajar do cérebro em seu jogo químico a nos obrigar à obediência, a nos induzir à ingesta alimentar, é o senhor do jogo. É extraordinário notar a defesa pública desse conceito por nossos pares endocrinologistas.
Afirmar que o tratamento farmacológico mantido ou intercalado por períodos de estreita observação comportamental é o destino óbvio do obeso, era algo para poucos corajosos. E admitir que em situações extremadas do grande obeso a solução vai estar apenas nas hábeis mãos de um cirurgião bariátrico era inimaginável. Mas, se o percentual de sustentabilidade do peso perdido após o findar de qualquer tratamento, farmacológico ou não, é de 10% a 20% (excluído o tratamento cirúrgico), é lúcido aceitar que existem dois grupos para rastrearmos: aquele que reganha o peso e outro que sustenta sua perda.
O papel do hipotálamo na alimentação
Utilizando uma explicação bem simplista, o controle da ingestão alimentar encontra-se em setores de nosso cérebro, mais exatamente no hipotálamo. Por ali, uma substância sabidamente estimula a fome: a grelina. E várias outras são sacietógenas, apertando o botão da saciedade, o sinal que não precisamos mais ingerir alimentos, para abstrair deste texto abordagem excessivamente acadêmica, aceitemos a leptina como representante dos hormônios sacietógenos.
Pois bem, obedecendo a fisiologia, com o emagrecimento, a grelina assume níveis cada vez mais altos e, por outro lado, a leptina decresce progressivamente. Somos empurrados para o peso que tínhamos. O que incomoda é a desobediência fisiológica quando o peso perdido está de volta, pois a grelina não cede aos números pré tratamento e pior ainda, a leptina não retorna ao patamar em que se encontrava antes do tratamento. Então, agora estamos com o peso que não queremos e sendo encaminhados para um número maior na balança.
O metabolismo basal
A taxa de metabolismo basal é definida como a quantidade de calorias que o organismo gasta em repouso, sendo que os estudos que investigam esse parâmetro no emagrecimento acumulam evidências de que esta taxa decai à medida que ocorre a perda ponderal. Uma lógica matemática: menor universo corporal e menos energia gasta por este indivíduo. Porém, o inverso não é totalmente verdadeiro, após o eventual retorno dos quilos, esse perfil de gasto calórico permanece econômico.
Agora o obeso está com o peso de partida, mas seu corpo gasta boa parte das calorias consumidas como um magro. Injusto, mas real. O que faz 10% a 20% de emagrecidos sustentarem suas perdas ponderais é uma pergunta a ser respondida.
Sabidamente o fator motivacional persistente é base para o sucesso do privilegiado grupo, que apresenta ainda algumas singulares características.
• São pacientes que partiram de sobrepeso ou obesidade leve
• Fazem pesagens frequentes (ao menos 2 x semana)
• Praticam exercícios físicos (média 5 horas/semana)
• Possuem controle alimentar rígido, evitando fast foods
• Consomem café da manhã proporcionalmente grande em relação às outras refeições
• Costumam trocar açúcar por adoçante.
E, curiosamente, sempre anotam que é muito difícil sustentar a perda de peso, o fazem com algum sofrimento. É bem sugestivo que essa parcela de indivíduos apresente alguma proteção que lhes permita autonomia no embate com o jogo químico citado acima e ainda assim é necessário um empenho militar para tal conquista.
Alguém escreveu que “impossível é uma palavra criada por alguém que desistiu”. Candidatar-se àquele seleto círculo de sucesso é obrigação, contudo, admitir estar com a maioria nem de longe deve entregar o obeso à frustração. Obesidade é uma doença crônica e como tal impõe tratamento com o rigor destinado a outras patologias, sendo impossível abstrair o médico deste contexto.
Atentemos, porém, que pequenas perdas ponderais são mais sustentáveis que emagrecimentos mais suntuosos. É quase como afirmar “que a melhor maneira de emagrecer é não engordar”.